Entre 2016 e 2020, autoridades de saúde brasileiras registraram mais de 150 mil casos de hanseníase, sendo 2018 o ano com maior número de casos totais. Comparando com o restante do mundo, o Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase, ficando atrás apenas da Índia. Devido a maior incidência em países com maior desigualdade social e menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), bem como em populações mais desfavorecidas, a hanseníase é negligenciada em muitos casos.
Em razão da grande incidência e dos riscos que a doença oferece, ela é um grave problema de saúde pública, com notificação compulsória e investigação obrigatória dos casos suspeitos e confirmados. No Brasil, as regiões mais acometidas são Norte, Centro-Oeste e Nordeste.
Por isso, desde 2016, o Ministério da Saúde oficializou a campanha nacional conhecida como Janeiro Roxo para conscientização da população sobre a doença, como prevenir e quando buscar atendimento especializado. Continue lendo e veja o que você precisa saber sobre a hanseníase.
A hanseníase é uma doença crônica infecciosa que atinge a pele, as mucosas e os nervos periféricos (rosto, pescoço, parte dos braços, cotovelo e joelhos) causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae (M. leprae). Além desses locais, a hanseníase também pode afetar os olhos e órgãos internos como testículos, ossos, baço e fígado.
Historicamente, a hanseníase possui um estigma social que vem de quando ainda não havia tratamento com antibióticos. Antes de 1940, por não haver tratamento, os pacientes com hanseníase se tornavam desfigurados e desenvolviam deficiências. Por isso, por muitos anos, as pessoas com hanseníase eram temidas e evitadas por outras, acarretando sérios impactos emocionais e psicológicos. Com o surgimento do tratamento com antibióticos, os casos graves de hanseníase caem a cada ano.
A classificação dos doentes por lesões se divide em paucibacilares ou multibacilares. Os pacientes paucibacilares possuem no máximo 5 lesões de pele com exame de raspado negativo. Já aqueles classificados como multibacilares possuem mais de 6 lesões ou exame de raspado intradérmico positivo.
O principal meio de transmissão da hanseníase é através de gotículas de saliva (que podem ser propagadas na fala, tosse, espirro) e, portanto, do contato próximo e prolongado com alguém que tenha a doença e não esteja em tratamento. Portanto, estar em um ambiente fechado, aglomerado e com pouca ventilação com alguém que esteja com doença, aumenta o risco de contaminação.
Como o Brasil é um país endêmico, é possível que todos os brasileiros já tenham tido contato com a bactéria em algum momento da vida.
Para a população brasileira, estima-se que a maioria possua imunidade contra a bactéria. Esses pacientes que já possuem imunidade, têm risco baixo de adoecer ao entrarem em contato com a bactéria. Apesar disso, a suscetibilidade para a doença tem relação genética e, portanto, pessoas com familiares que têm ou já tiveram hanseníase são mais propensas a se contaminarem e desenvolverem a doença.
Pacientes que têm maior resistência podem apresentar pequenas lesões e quase não contaminam outras pessoas. Já pacientes imunocomprometidos, ou seja, com menor resistência imunológica a infecções, podem apresentar uma manifestação da doença mais disseminada, atingindo várias regiões do corpo e também podem contaminar outras pessoas.
A hanseníase se caracteriza por uma incubação longa, ou seja, a manifestação de sintomas pode acontecer até 8 anos depois do contato com a M. leprae. Isso dificulta o controle da doença. A manifestação da hanseníase pode ocorrer por diferentes meios:
As manchas da hanseníase podem ser brancas ou vermelhas. Além disso, elas não provocam sensibilidade, pois a bactéria atinge os nervos periféricos, diminuindo e até inibindo a sensibilidade.
Como a bactéria pode atingir os nervos periféricos, é comum que haja dores e sensação de choques próximo às lesões. Além disso, pode haver perda de sensibilidade e perda da força nos músculos ligados a esses nervos.
Pode haver febre, inchaço nas mãos e nos pés, feridas e ressecamento do nariz, além de ressecamento e sensação de areia nos olhos.
Na hanseníase, a prevenção é voltada para evitar a incapacidade. O diagnóstico precoce é ponto chave na determinação da evolução da doença. Portanto, ao suspeitar de qualquer sinal ou sintoma, procure um médico.
É preciso monitorar o contato do paciente doente com pessoas que possam ser suscetíveis. Caso haja contato com alguém que tenha a doença, evite tocar as secreções das feridas e não fique em ambientes fechados e sem circulação de ar.
A discriminação ainda é ponto crucial na busca e acesso ao diagnóstico, portanto, ela repercute no sucesso do tratamento e atrapalha a luta para acabar com os casos de hanseníase. Apesar disso, reforça-se que a hanseníase tem cura, por isso, é importante procurar atendimento médico no surgimento dos primeiros sinais e sintomas.
Se não tratada na fase inicial, a doença pode evoluir, se tornar altamente transmissível e atingir pessoas mais vulneráveis como crianças e idosos. Por isso, a educação em saúde da população é essencial para que os pacientes saibam identificar a doença e entendam que buscar ajuda o quanto antes é o que determina o sucesso do tratamento. Além disso, muitos pacientes não sabem, mas o tratamento da hanseníase é gratuito.
No Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento gratuito com poliquimioterapia única (PQT-U) interrompe a transmissão da bactéria e cura a doença. Neste tratamento, há associação entre 3 medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina. O tempo de tratamento varia entre 6 meses e 1 ano, a depender da gravidade da doença. Após a primeira dose, já não há risco de transmissão.
A OMS, em 2021, estabeleceu uma estratégia para acabar com a hanseníase até 2030. A estratégia visa a implementação do planejamento em países endêmicos, ampliação da prevenção e diagnóstico precoce, tratamento precoce e prevenção de complicações e combate ao preconceito e estigma com relação à doença.
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