Vários alimentos estão associados com reações alérgicas capazes de provocar diferentes graus de desconforto ao longo da vida. Nesse contexto, a chamada alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma alteração que costuma atingir com mais frequência bebês e crianças, sobretudo antes dos dois anos.
Inclusive, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a APLV é a reação alimentar adversa mais comum entre os pequenos. Dessa forma, é importante compreender como o problema se manifesta, saber quais são os seus riscos e entender se algo pode ser feito para conter tal alteração.
O que costumamos chamar de alergia é, na prática, uma reação descontrolada do sistema imune a algum “invasor” externo que é reconhecido com uma ameaça, quando na verdade não é. Por isso, ele recebe o nome de alérgeno.
Assim sendo, na presença desse elemento alérgeno, vários mecanismos de defesa são disparados. Com isso, alguns sintomas podem surgir, fazendo com que o corpo manifeste o quadro. Vários alimentos estão associados com crises alérgicas. Alguns dos mais conhecidos são o amendoim, os frutos do mar e os ovos.
No caso da alergia à proteína do leite de vaca, o problema surge a partir do momento em que células do intestino responsáveis pelas defesas naturais do organismo não estão preparadas para lidar com o alimento oferecido.
Desse modo, quando o bebê ou criança consome o leite de vaca, uma resposta imune é indevidamente disparada, algo que é repetido toda vez que há a ingestão do alimento.
Além disso, o contato com a proteína responsável pela alergia pode se dar de forma indireta, ainda quando o bebê está sendo amamentado de forma exclusiva com leite materno. Isso acontece pelo fato de que proteínas do leite de vaca podem ir parar no líquido produzido pela mãe caso ela tenha consumido esses alimentos.
Seja como for, vale sempre destacar que alergia ao leite de vaca e intolerância à lactose são coisas diferentes.
Enquanto a alergia se dá pela resposta do organismo à presença de proteínas presentes no leite, a intolerância é uma alteração no processo de digestão da lactose, o açúcar presente naturalmente nos laticínios.
Por vários motivos, o corpo pode perder a capacidade de produzir a lactase, enzima gerada com a finalidade de quebrar a lactose. Assim, ela chega ao intestino inteira, provocando os sintomas característicos da intolerância (que em sua maioria são de natureza gastrointestinal).
Ao contrário da APLV, a intolerância à lactose tende a surgir mais tarde, afetando com maior frequência adolescentes e adultos. Em casos raros, um indivíduo pode apresentar ambos os problemas. No mais, esse desconforto pode ser gerenciado com a restrição do consumo de produtos com lactose ou o uso de suplementos à base de lactase.
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Em geral, as reações provocadas pela APLV podem ser divididas em duas grandes categorias:
Assim sendo, as reações de natureza mais lenta tendem a se concentrar em sintomas gastrointestinais. Os mais frequentes são:
Em contrapartida, os sintomas de origem súbita não se concentram apenas no trato gastrointestinal e podem atingir outras partes do corpo. Os mais comuns tendem a ser:
Com o tempo, o paciente com essa alergia pode passar a sofrer com baixo ganho de peso e atraso no desenvolvimento. Além disso, embora o risco seja baixo, a APLV pode desencadear a principal consequência de um episódio alérgico: o choque anafilático.
Esse é um episódio potencialmente fatal em que o indivíduo passa a ter dificuldades acentuadas para respirar e queda na pressão arterial e no ritmo cardíaco por conta de uma reação alérgica aguda.
Mesmo diante dos sintomas descritos, pode ser difícil confirmar ou descartar um quadro de APLV. Não há exames específicos que permitam delimitar se as queixas relatadas se dão mesmo por causa da exposição à proteína do leite de vaca.
De todo modo, testes de exclusão dos laticínios e de reação cutânea de alergia podem ser utilizados para orientar a melhor avaliação. Ainda assim, é preciso considerar também outras possíveis causas para os sintomas identificados, como gastroenterites, enterocolites ou mesmo outras alergias alimentares.
Uma vez confirmado o diagnóstico, a principal abordagem para tratar a condição envolve eliminar da dieta o leite e seus derivados, com a devida reposição de determinados nutrientes (como cálcio e vitamina D) caso seja necessário. Isso pode ser estendido para a mãe lactante, caso o contato com a proteína se dê pela amamentação.
A boa notícia é de que a maioria das crianças com APLV tende a desenvolver uma maior tolerância aos alérgenos presentes nos laticínios com o passar dos anos. Estima-se que até o primeiro ano de vida, 50% dos pacientes superam o quadro. Enquanto isso, ao atingir os seis anos, 90% deles deixam de apresentar a reação adversa característica.
Aproveite para saber mais sobre diferentes tipos de alergia e entenda melhor quando procurar ajuda profissional nesses casos.